domingo, 10 de junho de 2007

Entrevista - Wilson Gouveia

Como avisado na última sexta-feira, estou colocando no ar hoje uma entrevista exclusiva concedida a mim via e-mail por Wilson Gouveia. Em virtude dessa entrevista não estarei colocando a quinta edição da minha coluna hoje, como havia divulgado que faria.

Creio que a matéria sobre Wilson dispensa apresentações, então sem mais delongas, aí vai a entrevista quase na íntegra, com pequeninas alterações:

Olá Wilson, como você está? Obrigado por aceitar essa entrevista.

R: Beleza, o prazer é meu.

Você tem trilhado um bom caminho no ufc até agora. Muitos estão começando a conhecer o Wilson lutador, mas poucos sabem quem é você de verdade. fale um pouco da sua história, como era sua infância, o que o levou a começar a treinar e como você chegou onde está hoje.

R: Eu acho que minha infância teve duas partes. Antes e depois de perder meu pai... as duas foram muito importantes para a formação do meu caráter. A primeira eu era muito moleque para entender alguma coisa que passava, por isso só brincava e ia ao colégio. Inclusive no dia que meu pai faleceu meu primo foi me buscar no colégio e quando ele me falou o que tinha acontecido eu meio que não tava entendendo, ou simplesmente não queria acreditar que aquilo estava acontecendo na minha família.

Só lembrando, meu pai faleceu com 42 anos de idade. Voltando, nesta época eu morava em Manhuaçu, uma pequena cidade no interior de Minas e até então só tinha praticado karatê. Eu sonhava em ser jogador de futebol, praticamente igual qualquer criança no Brasil sonha em ser. Continuando a história, logo depois que passou aquele primeiro choque... E agora? Essa era a pergunta. Minha mãe nunca tinha trabalhado na vida e tinha agora três crianças para criar sozinha, ela então resolveu voltar para Fortaleza, minha terra natal, e onde estavam todos os parentes dela. Isso foi ótimo, pois mudei de colégio, conheci outros amigos...

Até os 14 anos nunca tinha ouvido esse nome “jiu-jitsu”, a primeira vez que eu conheci o jiu-jitsu foi (quando) um amigo meu levou uma fita do antigo UFC. Depois de ver aquelas lutas... cara, eu fiquei maluco! Só pensava naquilo. Até poster do Royce Gracie eu tinha na minha parede.

Minha mãe no começo falava “vai estudar, menino. Esse negócio de luta é para desocupado (risos)”, e por outro lado eu recebia muita força de dois tios meus, o Paulo e o Josué. Agradeço a eles até hoje. Na época, até pagar mensalidade de academia eles pagavam, compravam vitaminas, me davam grana pra pegar ônibus... Você sabe no Brasil nada é fácil e eles faziam isso de coração, porque ninguém, nem mesmo eu, acreditava que um dia eu poderia estar onde eu estou agora. Simplesmente é um sonho que se tornou realidade. Mas você sabe, viver de jiu-jitsu não é fácil, meu camarada. Pelo menos na minha época não era, não sei agora (risos).

Quando tinha uns 20 anos de idade veio na minha cabeça: “por que eu não vou pros States?” Eu já tinha uma tia lá, seria uma boa. Mas aí ficou aquela dúvida: “como eu vou largar tudo isso aqui em Fortaleza? Esse Sol, as praias, os forrós, a mulherada... (risos). Mas eu não tinha escolha. Eu já tinha 20 anos e tinha que ajudar minha mãe de alguma forma. Então decidi e saí fora pra América.

No começo, meu amigo, é sinistro. Sem falar inglês, sem conhecer nada, eu até pensava que nunca ia aprender a andar aqui porque tudo parecia tão diferente... Mas fui em frente. O trabalho na época era coisa desumana. Eu não tinha hora para comer, trabalhava das 7 da manhã até as 8 da noite. Chegava “morto”. O pior é que eu não podia nem pensar em voltar porque minha família dependia da grana que eu mandava. Vou te falar, foram tempos difíceis, mas depois de muito esforço fui conseguindo me adaptar. Aprendi a falar inglês, conheci ótimas pessoas que me ajudaram muito.

Um belo dia um amigo que sabia que eu treinava e que era faixa roxa me falou: “cara, tem um faixa preta dando aula em uma academia aqui perto, vamos lá?” e falei: “vamos nessa”. No caminho eu ia perguntando para o meu amigo: “quem é esse cara? Ele só sabia que era um baiano. Quando cheguei lá tive o prazer de conhecer o Rodrigo Minotauro, que na época tinha também acabado de chegar aqui nos Estados Unidos. Eu lembro que eu perguntei a ele: “você veio fazer o que aqui, trabalhar ou dar aula?”. Ele me respondeu: “eu vim para lutar vale-tudo”. Eu pensei comigo mesmo “esse aí está maluco (risos).

Foi uma época maneiríssima, mas logo depois que o Rodrigo lutou com Jeremy Horn naquele antigo World Extreme Fight ele resolveu voltar para o Rio porque aqui não tinha mais treino. Aí eu tive que arrumar outro lugar para treinar.

Tive muita sorte de conhecer o Dan Lambert, um cara que até hoje é como se fosse um irmão. Ele me levou para treinar com o Marcelo e o Conan Silveira. Depois de um tempo o Libório chegou, aí virou a toda poderosa ATT. Posso te falar que eu fui o primeiro de tudo.

Um dia fui treinar lá na academia, e tinha um cara treinando para um vale-tudo que ia rolar na semana seguinte. O Marcelo Silveira então me chamou e disse “dá um treino com aquele cara ali”. Eu falei: “beleza”. Com 10 segundos de treino eu estalei o pé dele. Esse cara era o Frank Mir e era sua estréia no vale tudo. O Dan ficou tão impressionado que me chamou para assistir o vale-tudo, logo quando o evento acabou ele perguntou se eu tinha coragem de lutar, aí eu falei: “meu amigo, eu tenho coragem e também muita vontade. Vê se você me coloca aí no próximo. Foi dito e feito. No evento seguinte eu estava estreando no vale -tudo. Foi mais ou menos assim minha historia. Espero que tenha gostado. Desculpe os erros de português. Lembra que minha mãe falava “vai estudar”? Pois é, eu nunca ouvia (risos).

De acordo com o Sherdog.com, você tem uma derrota por nocaute, outras por nocaute técnico, e a decisão para Keith Jardine. No entanto, é do conhecimento de quem lhe acompanha que você nunca foi nocauteado, você pedia para parar quando estava cansado. Você pode falar a respeito das suas 4 derrotas?

R: Na verdade nunca fui nocauteado. Quando cansava eu simplesmente desistia, porque naquela época eu ainda não sabia se realmente queria ou não ser lutador de vale tudo. Eu lutava pela grana e quando você luta pela grana você não chega a lugar nenhum.

É consenso de quem treina ou já treinou na ATT que você tem um potencial incrível ainda inexplorado. Todos que já lhe viram nos treinos dizem que você ainda não mostrou nem metade do que sabe ao mundo. Quando poderemos ver esse Wilson dos treinos em ação?

R: Muito em breve. Eu acredito que agora eu me encontrei e sei o que realmente eu quero para a minha vida.

Quem já houve falar de você há algum tempo sabe que houve uma mudança na sua postura em relação às lutas. O que causou essa mudança de comportamento?

R: Muita influência dos meus amigos da ATT e do Benkei. Os caras sempre acreditaram muito no meu potencial e a única coisa que mudou foi que agora eu realmente treino para lutar.

Você tem quatro lutas no UFC, as últimas três sendo vitórias por finalização. Por que desde a luta com Jardine ainda não lhe vimos no card principal? O que falta para suas lutas serem televisionadas?

R: Para o Brasil eu realmente não sei por que, pois aqui na América elas sempre estão na tv.

Em 13 lutas você nunca enfrentou um brasileiro. Se o UFC resolvesse colocá-lo para em sua próxima luta enfrentar um, como você lidaria com isso?

R: Sou um profissional e não escolho oponente, mas preferia deixar para lutar com um “brazuca” apenas valendo um cinturão. Ainda tem muito gringo aí precisando apanhar. (Risos).

Você é faixa preta de jiu-jitsu de Ricardo Libório e Marcus Aurélio. Já competiu no jiu-jitsu esportivo? Quais foram seus resultados?

R: Competi de kimono até a faixa roxa onde fui campeão Pan-Americano em 2001 até 91 kilos.

O pessoal que acompanha seu treino diz que você é conhecido por ter muita força, tão forte quanto um peso pesado. Inclusive ouvi que quando você treinou com Rodrigo Minotauro e Antônio Pezão eles não tiveram moleza, pelo contrário. Quem viu disse que você fez eles se empenharem ao máximo. Essas histórias são verdadeiras? Comente um pouco a respeito.

R: Na ATT ninguém comenta treino porque treino é treino e luta é luta. Treinei sim com o Rodrigo e com o Pezão e vou te falar que são dois monstros. Foi e é um grande prazer treinar com essas feras sempre que eu posso.

Soube que você treinou também com Kimbo e Melvin Manhoef. pode falar um pouco dessas duas experiências? Você acha que Kimbo pode vir a ser um bom lutador no vale tudo, ou que é melhor ele ficar desafiando as pessoas na rua mesmo?

R: Sim, treinei com os dois. O Melvin é muito bom mesmo, muito forte e explosivo, um ótimo lutador. Já não posso falar o mesmo do Kimbo. Ele realmente foi treinar lá na academia e nunca mais voltou, o coitado. É fraco, está longe de ser um lutador de verdade.

Com a agora confirmada aquisição do Pride pela Zuffa, e a declaração de Dana White que lutarão todos sob a mesma organização, podemos especular a ida de grande parte dos lutadores do Pride para o UFC. Como você vê a vinda de atletas como Maurício Shogun, Ricardo Arona, Rogério Minotouro, Rameau Sokoudjou, Kazuhiro Nakamura, Alistair Overeem, Dan henderson e Wanderlei Silva para o octógono?

R: Ótimo. Isso só faz engrandecer o nosso esporte e aumenta o desafio individual de cada um. E também irá gerar ótimas lutas para os fãs.

O único homem a derrotá-lo no octógono foi nocauteado por um desconhecido até então. Você assistiu à luta entre Keith Jardine e Houston Alexander? O que você achou?

R: Realmente fiquei chocado com a derrota do Keith. Ele estava indo muito bem, caminhando para uma disputa de cinturão, mas o mundo da luta é isso mesmo, pegou no queixo já era. Muita confiança às vezes prejudica. Foi um aprendizado para ele. Você nunca deve subestimar seu oponente.

Vou falar alguns nomes e gostaria que você falasse o que você pensa de cada um.

André Benkei

R: O pai e a mãe de todos na att. É o cara que mudou o rumo da minha carreira. Sem ele com certeza não estaria onde eu estou agora. Devo muito a ele e à medida que vou ganhando a dívida só vai aumentando. (Risos) Eu amo esse cara.

Ricardo Libório

R: Um grande mestre e o maior e melhor treinador de vale tudo do mundo.

Marcus Aurélio

R: Grande mestre, grande lutador e grande amigo. Com certeza o maior lutador que o Ceará já fabricou. Sou fã dele. O cara é foda.

American Top Team

R: Minha segunda casa e minha segunda família. Ali a união é total. É um
por todos e todos por um.

Dana White

R: Um verdadeiro gênio. Agradeço a ele quando estou assinando autógrafos aos fãs. Se não fosse por ele nada disso seria possível.

Chuck Liddell

R: Bom lutador, mas com muitos defeitos.

Quinton Jackson

R: Freguês do Shogun e do Wanderlei e campeão do UFC.

Keith Jardine

R: Não perde por esperar, vou conseguir minha revanche.

Wilson Gouveia

R: Um cara que está humildemente tentando conseguir seu espaço e que ainda vai dar muito o que falar, pode anotar.

Muito obrigado pela entrevista. Deixe um recado para aqueles que acompanham sua carreira e torcem por você.

R: Gostaria de agradecer a todas as pessoas que torcem por mim. Em especial minha família, aos meus irmãos da ATT e meus fãs. Espero dar muita alegria para todos vocês. Obrigado por tudo e fiquem com Deus.

3 comentários:

Eduardo Lapagesse disse...

Show de bola a entrevista! O blog está cada vez melhor e, em breve, terá que virar site, pela qualidade do conteúdo... a concorrência que se cuide! :-)

Abs e parabéns!

P.S.: Tranca logo essa faculdade e vai fazer Jornalismo, rapaz! :-)

Anônimo disse...

Matheus, bom trabalho. Gostei das perguntas e o entrevistado colaborou bastante. Continue, garoto. (((Edu)))

Anônimo disse...

Parabéns pela entrevista, ficou bacana. Como disse, vou ficar assíduo por aqui.

Abraços