sexta-feira, 8 de junho de 2007

Wilson Gouveia - Em busca de reconhecimento

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Wilson Gouveia recentemente chamou a atenção dos brasileiros e do mundo ao conquistar sua terceira vitória seguida no Ultimate Fighting Championship (UFC), a terceira por finalização. O brasileiro até então desconhecido agora passa a ser observado com outros olhos.

Um dos motivos para a falta de conhecimento do público brasileiro a respeito de Wilson é o fato do atleta de 29 anos estar morando nos Estados Unidos desde os 20, e não ter feito nenhuma luta em solo brasileiro. Se não fosse sua entrada no maior evento de vale tudo na atualidade, e uma grande divulgação de sua equipe, a American Top Team (ATT) no site Portal do Vale Tudo ano passado, Wilson ainda seria um desconhecido.

Para aqueles que não o conhecem, o desempenho de Wilson é uma surpresa. Três vitórias em 4 lutas no UFC não é um resultado alcançado por muitos. Acrescente o fato das três vitórias serem definidas antes da decisão dos juízes e você terá Wilson numa pequena lista de nomes que qualquer promotor gostaria de ter em seu evento.

Engana-se quem pensa que o progresso de agora é resultado de um trabalho recente. O treinamento que vem sendo realizado agora pela American Top Team é a continuação de um estudo iniciado muito antes, quando Wilson ainda era um garoto e treinava Karatê.

No entanto, sua participação no Karatê foi breve, durou apenas dois anos. Wilson, como quase todo brasileiro na infância, sonhava ser jogador de futebol e levava uma vida muito despreocupada, até o falecimento de seu pai, Wilson Henrique de Gouveia, aos 42 anos.

Foi esse triste acontecimento, quando o atleta tinha 12 anos, no entanto, o provável responsável por Wilson estar onde está hoje.

Com o falecimento de seu pai, toda a família se mudou para Fortaleza, capital do Ceará e cidade natal do atleta da American Top Team. Foi lá que Wilson ouviu falar pela primeira vez de Jiu-Jitsu, UFC e Royce Gracie.

“Um amigo levou uma fita do antigo UFC. Depois de ver aquelas lutas eu fiquei maluco! Só pensava naquilo. Até poster do Royce Gracie eu tinha na minha parede.”

Wilson começou a se dedicar ao Jiu-Jitsu, apesar de sua mãe ser contra. “Minha mãe no começo falava ‘vai estudar menino, esse negócio de luta é para desocupado’ (risos)”. Porém o incentivo dos tios Paulo e Josué foram suficientes para fazer o atleta seguir a carreira que lhe consagra hoje.

Aos 20 anos de idade ele teve um pensamento muito comum em alguns brasileiros até hoje. “Por quê eu não vou para os Estados Unidos?”, Wilson se perguntava. Já tinha uma tia nos Estados Unidos, e a idéia de juntar um bom dinheiro lhe parecia promissora. Garante que não foi fácil deixar para trás o forró, o Sol, as praias e as mulheres de Fortaleza, mas tinha uma família para ajudar a sustentar, e não demorou para pisar em solo norte-americano. Lá fez trabalhos em construções e foi manobrista.

“No começo, meu amigo, é sinistro. Sem falar inglês, sem conhecer nada... Eu até pensava que nunca ia aprender a andar aqui, porque tudo parecia tão diferente... mas fui em frente. O trabalho na época era coisa desumana. Eu não tinha hora para comer, trabalhava das 7 da manhã até as 8 da noite. Chegava “morto”. O pior é que eu não podia nem pensar em voltar porque minha família dependia da grana que eu mandava. Foram tempos difíceis, mas depois de muito esforço fui conseguindo me adaptar, aprendi a falar inglês e conheci ótimas pessoas que me ajudaram muito”.

E como ajudaram. Um dos amigos que fez nos Estados Unidos convidou Wilson para ver um baiano faixa-preta de Jiu-Jitsu dando aula perto de onde estavam, e Wilson, na época faixa-roxa, aceitou o convite. Mal sabia ele que estava prestes a conhecer um dos maiores expoentes do vale tudo brasileiro, Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro.

“Ele também tinha acabado de chegar aqui nos Estados Unidos. Eu lembro que perguntei a ele: ‘você veio fazer o quê aqui? Trabalhar ou dar aula?’ e ele me respondeu: ‘eu vim para lutar vale-tudo’. Eu pensei comigo mesmo: ‘esse aí está maluco’ (risos)”.

Wilson lembra dessa época como uma das melhores de sua estadia nos Estados Unidos, mas que não durou muito. Após um combate com o americano Jeremy Horn em 15 de janeiro de 2000, Minotauro resolveu voltar ao Brasil em busca de treinos melhores.

Sem Minotauro, o atleta teve que procurar um outro local para treinar. Foi nessa procura que ele conheceu Dan Lambert, uma pessoa por quem nutre o sentimento de um irmão. Dan levou Wilson para treinar com os irmãos Marcus e Marcelo Silveira. Mal sabia ele que estava para presentear o início da equipe American Top Team.

“Depois de um tempo o Libório chegou, aí virou a toda poderosa ATT. Posso te falar que eu fui o primeiro de tudo”.

Não foi com o início da equipe, no entanto, que Wilson resolveu treinar vale tudo. A história tem um começo que poucos acreditariam.

Num dia como outro qualquer, Wilson chegou na academia e foi convidado por Marcelo Silveira para dar um treino com um atleta que estava lá se preparando para sua primeira luta de vale tudo, que aconteceria em uma semana. Ele aceitou, e dez segundos após o início estalou o pé de seu adversário. Tratava-se de Frank Mir, que alguns anos depois viria a ser campeão dos pesos pesados do UFC.

Dan Lambert o convidou para assistir à luta de Mir, e após o término do evento perguntou a Wilson se ele teria coragem de subir no ringue. “Eu falei: meu amigo, eu tenho coragem e também muita vontade. Vê se você me coloca aí no próximo. Foi dito e feito, no evento seguinte eu estava estreando no vale tudo.”

O atleta promissor também teve um início promissor. Suas três primeiras lutas terminaram antes do fim do primeiro round, e tudo indicava que Wilson logo figuraria entre os melhores de seu peso, até que a vontade de lutar de Wilson se esvaiu, ele começou a subir nos ringues por outros motivos e sofreu duas derrotas seguidas.

Em seu cartel no site Sherdog.com consta uma derrota por nocaute devido a uma joelhada. Segundo pessoas que estavam presentes, Wilson se jogou no chão e pediu para parar.

“Na verdade eu nunca fui nocauteado. Quando cansava eu simplesmente desistia, porque naquela época eu ainda não sabia se realmente queria ou não ser lutador de vale tudo. Eu lutava pela grana e quando você luta pela grana você não chega a lugar nenhum.”

Uma coisa que Wilson sabe bem. Atualmente em seu cartel constam 9 vitórias e 4 derrotas, mas aqueles que acompanham seus treinamentos dizem sem dúvida alguma que se não fosse por sua falta de vontade ele estaria invicto hoje com 13 vitórias.

Foi apenas recentemente, depois de sua derrota para Keith Jardine no “UFC – Ultimate Fighter 3 Finale”, que Wilson decidiu que definitivamente seria um lutador. Após um começo espetacular, o atleta foi caindo de rendimento devido ao cansaço, o que lhe custou a vitória nos olhos dos jurados.

Para os seus treinadores isto foi um divisor de águas. A partir daí Wilson passou a se dedicar mais aos treinos, e demonstrar no ringue o potencial que toda sua equipe já conhece. Seu preparador físico, André Benkei, no entanto, alerta: “Ele ainda não mostrou nem metade do que pode fazer”.

E pelo que contam seus parceiros de treinos, não fez mesmo. Algumas pessoas ligadas à American Top Team comentam performances extraordinárias do lutador que poucos acreditam sem ter visto. Na lista de atletas que passaram sufoco com Wilson durante os treinos está o gigante Antônio “Pezão” Silva, com 1,93 metro e mais de 140kg. Também o ex-campeão peso pesado do Pride Antônio Rodrigo “Minotauro” Nogueira, o excelente atleta de muay thai e vale tudo holandês Melvin Manhoef e o lutador-de-rua-aspirante-a-lutador-de-vale-tudo Kimbo Slice.

Um alento e tanto para os brasileiros, pois um lutador tão completo quanto Wilson se mostra, e com tantos atributos quanto seus parceiros de treinos e treinadores costumam falar tem tudo para ser a versão brasileira do mito russo Fedor Emelianenko. No momento, só nos resta aguardar.

*Confira domingo, dia 10 de junho, a publicação de entrevista exclusiva concedida por Wilson Gouveia ao blog.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela reportagem Matheus, muito boa

Anônimo disse...

Legal pacas sua reportagem Matheus.

Não conhecia muito sobre o Wilson Gouveia. Vou acompanhar melhor a carreira dele a partir de agora.

abraço

Ass: elemento PVT

Anônimo disse...

Belo trabalho brother! Continue assim!

FAlow!